
Há uma família feliz vestida formalmente, em uma noite, como nos anos 50. Eles vêm pelo metrô do Largo do Machado. Não me lembro direito da música, mas a letra era algo inocentemente feliz, até besta e zoava com as adversidades. Na subida da escada rolante do metrô a música fala que eles continuarão cantando mesmo que apareça uma cobra, e ainda dirão olá para ela. E eis que de fato aparece uma jibóia pelo corrimão da escada que abre a boca com dentes enormes para a família mais nada acontece.
Eles vão em direção a Galeria Condor que na realidade é um teatro. A família vai naquela direção mas não é mais ela. Estou com a minha família. O teatro tem um tema retrô dos anos 50, em que até os ingressos e o programa da peça vêm em papel amarelado, dando aspecto mesmo de antigo. Há uma cara de bigodinho a receber o dinheiro para os ingressos e meu pai tira um bolo de dinheiro, em notas de R$ 10, para pagar a nossa entrada. Parece que o total dá R$180 reais e meu pai fala dos preços serem mais baixos por estar levando mais 3 pessoas. Mas ai o cara diz que o preço do ingresso mais barato é o que está escrito no programa deles e não os R$ 2,50 que estava no jornal (de aspecto antigo amarelado). Eu digo para o meu pai, deixa eles, pague o preço mais caro porque eles vão se ver comigo.
Aparece a bicha diretora do espetáculo com o cabelo mal pintado de loiro parecendo Walter Mercado. Eu digo para ela, que segura um amontoado de algodão, que eu era crítico da Tribuna da Tarde e que estava ali alguém pior que a Barbara Heliodora. O cara dos ingressos me reconhece dizendo que adora as críticas das novelas e quando vou para dentro a bicha respira aliviada me subestimando, dizendo que alguém que assiste novelas jamais terá capacidade para criticar uma peça.
Pois e peça começa e nela há um elenco fazendo papel de retirantes. As crianças do elenco bem como os pais estão fora do palco. Elas começam a brigar e criar caso com outras crianças que parecem ser parentes meus. A bicha dá um “piti” e os atores voltam para suas posições enquanto eu anoto tudo em um caderno, já com raiva detonando a peça. Em especial uma ráfia vagabunda que passa pelo teto do teatro simbolizando a nuvem em que eu escrevo: ráfia vagabunda das Casas Turuna enfeitam o cenário.
Depois aparecem as críticas e nisso a mulher humilde da peça está fazendo alguns recortes de cenário e a bicha dá dicas para ela onde ela errou. As folhas de papel têm recortes internos em formas geométricas e sinuosas formando a copa de uma árvore. Só que para o caule ela usa formas geométricas retas. Pergunto para a bicha se ela implica com a moça por conta das formas não serem convencionais. A bicha me diz que até para parecer não-convencional há de se seguir uma regra: formas sinuosas com formas sinuosas, formas geométricas com formas geométricas.