Monday, December 26, 2005

Barbarizando


Há uma família feliz vestida formalmente, em uma noite, como nos anos 50. Eles vêm pelo metrô do Largo do Machado. Não me lembro direito da música, mas a letra era algo inocentemente feliz, até besta e zoava com as adversidades. Na subida da escada rolante do metrô a música fala que eles continuarão cantando mesmo que apareça uma cobra, e ainda dirão olá para ela. E eis que de fato aparece uma jibóia pelo corrimão da escada que abre a boca com dentes enormes para a família mais nada acontece.

Eles vão em direção a Galeria Condor que na realidade é um teatro. A família vai naquela direção mas não é mais ela. Estou com a minha família. O teatro tem um tema retrô dos anos 50, em que até os ingressos e o programa da peça vêm em papel amarelado, dando aspecto mesmo de antigo. Há uma cara de bigodinho a receber o dinheiro para os ingressos e meu pai tira um bolo de dinheiro, em notas de R$ 10, para pagar a nossa entrada. Parece que o total dá R$180 reais e meu pai fala dos preços serem mais baixos por estar levando mais 3 pessoas. Mas ai o cara diz que o preço do ingresso mais barato é o que está escrito no programa deles e não os R$ 2,50 que estava no jornal (de aspecto antigo amarelado). Eu digo para o meu pai, deixa eles, pague o preço mais caro porque eles vão se ver comigo.

Aparece a bicha diretora do espetáculo com o cabelo mal pintado de loiro parecendo Walter Mercado. Eu digo para ela, que segura um amontoado de algodão, que eu era crítico da Tribuna da Tarde e que estava ali alguém pior que a Barbara Heliodora. O cara dos ingressos me reconhece dizendo que adora as críticas das novelas e quando vou para dentro a bicha respira aliviada me subestimando, dizendo que alguém que assiste novelas jamais terá capacidade para criticar uma peça.

Pois e peça começa e nela há um elenco fazendo papel de retirantes. As crianças do elenco bem como os pais estão fora do palco. Elas começam a brigar e criar caso com outras crianças que parecem ser parentes meus. A bicha dá um “piti” e os atores voltam para suas posições enquanto eu anoto tudo em um caderno, já com raiva detonando a peça. Em especial uma ráfia vagabunda que passa pelo teto do teatro simbolizando a nuvem em que eu escrevo: ráfia vagabunda das Casas Turuna enfeitam o cenário.

Depois aparecem as críticas e nisso a mulher humilde da peça está fazendo alguns recortes de cenário e a bicha dá dicas para ela onde ela errou. As folhas de papel têm recortes internos em formas geométricas e sinuosas formando a copa de uma árvore. Só que para o caule ela usa formas geométricas retas. Pergunto para a bicha se ela implica com a moça por conta das formas não serem convencionais. A bicha me diz que até para parecer não-convencional há de se seguir uma regra: formas sinuosas com formas sinuosas, formas geométricas com formas geométricas.

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