Monday, November 28, 2011

No apartamento

No apartamento de Osmar olho da janela para aquele do outro lado da rua. Só que desta vez está diferente. Não é aquele apartamento grande dos rapazes enamorados. Lá o apartamento é funcional. Descubro isso porque há uma mulher conversando com o porteiro, provavelmente marido dela, enquanto ele ajeita a roupa como quem está indo trabalhar.

Osmar olha em outra janela enquanto fuma um cigarro. Pergunto a ele o porquê da mudança e ele me diz, olhando para a rua "se esqueceu de que aqui é o apartamento novo?" Vista da janela para a rua é só essa do meu quarto. Volto para a sala que não é mais a mesma e na janela vejo o ap do porteiro separado por um corredor. Osmar está preocupado se não foi estranho eles me verem olhando pela janela. Eu digo pra ele ficar tranquilo e quando volto a olhar para lá puxo papo com o porteiro, para disfarçar o meu voyerismo.

Comento com ele que durante anos morei em um apartamento como o dele, mas ficava no térreo. Dizia que era diferente estar um um apartamento na cobertura, que tinha mais qualidade de vida morar daquele jeito. Ele parece me entender. O porteiro é branco, baixo, com quase quarenta anos, o cabelo castanho claro tem uma leve calvície e reparo efetivamente que ele é um homem bonito.

Daí Osmar me pede para eu descer e ver efetivamente se está fazendo sol para irmos à praia. Digo a ele que descerei e depois subo para informar. Ele me diz que está bem que enquanto isso ele toma um banho. Mas fico preocupado em ter que descer, subir de novo em segundos, encher o saco do outro porteiro. Decido então descer e esperar Osmar lá embaixo de uma vez. Mas penso: e se não tiver clima bom para a praia? Uso então meus poderes: peço licença ao Osmar por alguns instantes e mentalizo. Sou capaz de projetar minha visão até a praia e digo que sim, ela está cheia e tem sol. Chego a dar alguns detalhes sobre quem está lá.

Do lado de fora na rua duas mulheres no carro. A chuva está fina, e elas tentam tirar o embaçado do vidro. Só que eu lhes digo que essa tarefa é impossível pois uma delas está fumando e que aquela fumaça de cigarro embaça o vidro do carro, por mais que eles tentem limpá-lo.

Tuesday, November 01, 2011

A Pilastra

Estou na Praça XV, na estação das barcas indo para Niterói. Compro o meu ingresso e vou para as roletas. A maior parte delas está com filas e uma das poucas vazias possui uma pilastra no meio. Decido arriscar a sorte e tentar passar. Penso que se não der certo pego meu bilhete de volta e passo por outra roleta.

A pilastra tem diâmetro grande e eu, gordo, não consigo passar. O estilo dela é clássico, na verdade se assemelhando aos pilotis do Niemeyer, como os da PUC ou do Hospital da Lagoa. A roleta eletrônica devolve meu ingresso, mas sei que ele está inválido. Preciso falar com um dos agentes da estação para passar não pelas roletas, mas por uma das aberturas das grades, as que eles permitem passar idosos, deficientes etc.

Na minha frente passa uma moça, dentro da estação que não tinha conseguido passar pela roleta (sim, há um paradoxo nisso) e o agente a leva justamente para tal passagem. Ela consegue passar por lá enquanto eu espero a minha vez de ser atendido para passar por ali.