Tuesday, February 21, 2006

Um psicanalista nacionalista na biblioteca


Marcelo está junto comigo caminhando para algum lugar na Tijuca. Decidimos cortar caminho por um velho prédio, muito bonito e cheio de detalhes. É como se a construção fosse uma galeria onde há duas portas e uma de suas saídas dá para outra rua.

No caminho eu observo uma sigla em alto relevo dentro da construção e ao traduzi-la percebeo que é algo relacionado com registro de direitos autorais de música. Eu digo para o Marcelo: “olha onde estamos, tem tudo a ver com você”. Ele me diz “meeeeeedo” se referindo à burocracia que é para registrar uma música composta por ele. E eu ainda digo: pior do que isso só a Bibliex (Biblioteca do Exército) e ele repete o mesmo “meeeeedo”.

A saída parece estar fechada pois é tarde da noite. E viramos para uma sala à direita onde há uma biblioteca. O Marcelo sacaneia dizendo que ali só deve ter gente velha. E vejo um coroa alto de barba branca usando calça jeans orientando as pessoas a buscarem seus livros. Marcelo vai falar com ele enquanto procuro o bibliotecário que está em sua mesa específica.

Ao falar com o bibliotecário percebo que ele é o Joel Birman que parece dar uma orientação para alguma amiga minha a respeito de psicanálise. Eu fico atento prestando a atenção e passo os olhos nos livros da Biblioteca para inventar uma desculpa sobre que livro eu vou pegar. Depois fico agachado ao lado da cadeira onde está minha amiga e presto a atenção no que diz o professor.

“Eu agora vou contar uma piada, mas o Odilon já conhece ela da aula”.

Fico feliz em ele ter me reconhecido e ele conta a tal piada. Em seguida ele me diz: “Odilon você não deve ter achado graça pois você é um psicanalista nacionalista”. E eu sequer etendi o motivo dele ter dito isso.

Lá pelas tantas estou olhando os livros sobre masculinidade do Sócrates Nolasco e o Joel comenta algo sobre ele e que ele tinha falado a respeito de meus estudos para ele. Eu digo que gosto do Sócrates e ele dá uma risada irônica e me cumprimenta com ar de satisfação. Também digo a ele sobre os assuntos que pesquiso tal como masculinidades. Depois ele me pede para eu esperar do lado de fora enquanto ele termina a orientação.

O lado de fora são as escadas de acesso a minha casa. E a amiga também é colocada pra fora pois há um grupo de pessoas chegando em casa e na mesa há talheres e livros. A minha amiga volta lá e ele diz que o livro dela deve ser devolvido até às 10:30 da manhã do dia seguinte e que ela tem um dever pra fazer. Ao pegar a ficha dela a minha amiga não é mais amiga, mas um amigo e ao consultar o nome dele, ele diz Wolverine. E o Joel fala e mostra a ficha que fica atrás dos livros que ele foi a penúltima pessoa a pegar aquele livro.

Enquanto isso estou indo embora com alguns livros na mão e Joel me interrompe dizendo que há tarefa para mim. Ele mostra o mesmo livro que está folheando para uma garota e diz para eu pegar os conceitos que tem no livro e classificá-los. Perplexo eu pergunto: “classificar como?”. Ele responde apontando os tais critérios, algo como se aquele conceito é um conceito natural, se o conceito foi criado por Freud, se é um conceito psicanalítco geral ou se era um conceito era algo já existente. E nisso ele continua folheando o tal livro de capa amarela envolvida com um plástico e letras marrons chamado “Fundamentos de Psicanálise”. É um livro já usado, rabiscado e o Joel aponta exemplos de como se dá tal classificação de acordo com as palavras encontradas no texto, tais como morte, inconsciente, foraclusão entre outras. Aquilo me deixa muito apreensivo.

Thursday, February 09, 2006

Companheiro é companheiro...


Estou com um amigo de colégio e tomamos um ônibus em Botafogo. Entramos pela porta de trás. O trocador, um nordestino de sotaque forte me entrega a mais três moedas de R$0,25 no troco em cima de uma folha de papel branco junto com o resto do troco. Entrego pra ele o dinheiro a mais.

Estamos vestidos com a camisa do mesmo tipo das do tempo de colégio, mas não era exatamente um uniforme. E por baixo estamos com camisetas convencionais, tal como fazia nos tempos de colégio. O trocador se oferece para pendurar as camisas brancas por trás da cadeira do ônibus como se fossem paletós, mas depois eu o vejo embrulhando uma manta marrom e colocando em uma caixa plástica. Como aquelas de roupa suja.

Falo com ele qualquer coisa criticando o comportamento de carioca, dizendo que somos mais desconfiados e bestas que os nordestinos e o trocador ri.

De repente começa a tocar “Companheiro é companheiro, fédaputa é fédaputa” da Banda Genéricos mas o trocador é impedido de escutar o rádio. Nesse momento o Luis Antônio está do meu lado e amigo de colégio no banco da frente. Começamos, eu o trocador e o amigo a cantar o refrão da música, como sinal de protesto e diversão ao mesmo tempo enquanto o Luis olha pra mim sem entender nada.

E o ônibus sai da Voluntários da Pátria em direção a Praia de Botafogo.

Fim de tarde


Está quase anoitecendo e os passarinhos estão indo para seus ninhos nas árvores dos oitizeiros na frente do prédio. Eu os observo mas estranho um certo pássaro voando no céu. De repente percebo que não é um pássaro e sim um morcego. Quem me informa é meu pai. Eu acho estranho ele voar no céu que está azulado e que ainda não escureceu. Mesmo assim eu contemplo o bicho voando por cima do corredor de serviço do prédio.