Sunday, January 22, 2006

A Vila depois da chuva


Uma vila de casas, barracos. Cinzas com portas de madeira caindo aos pedaços. Da janela observo a paisagem enquanto conversam comigo Marcus, José, Rodrigo e Lúcio. O sol está brilhando e faz muito calor e um deles tem a idéia de ir à praia.

O céu fica amarelo e começa a ventar mas um deles ainda está empolgado.

- Hoje não vai dá praia, vai chover! – Digo eu
- Vai sim o tempo ta bom, vamos. – Me diz um deles.

O tempo vira e cai uma forte chuva. A rua em frente fica completamente alagada, a ponto de eu pensar que o Lúcio para ir para o outro lado da rua precisaria de um barco. Até vejo isso, pessoas indo em braços. Mas como ainda consigo ver as pedras que pavimentam a rua e concluo que o nível da água é baixo.

- Ta vendo, você e sua boca.
- Nada, daqui a pouco a chuva passa. É chuva de verão.

O sol volta e aponto para o céu onde as nuvens escuras já estão indo embora. Há um clima de indecisão na casa sobre ir ou não ir à praia quando eu decido ir com o Lúcio.

Passo pelo quintal e o portão aberto que dá acesso à vila. Vejo a rua com o pavimento de pedras. Um monte verde, ajardinado e acima dele uma estrada onde passam ônibus comuns e de viagem. Entre eles passa um ônibus da 1001 e me dá a curiosidade se eles estão molhados, com o pára-brisa funcionando ou não. Alguns ainda estão molhados, mas o tempo está seco.

Do outro lado da rua uma família pobre sobre o monte de gramíneas em direção à estrada. Uma mulher carrega um monte de colchões sobre a cabeça, acompanhado do marido e das crianças, enquanto passa outra mulher mais velha está ainda com o guarda-chuva aberto. Eu penso para ela fechar o guarda chuva e ela assim o faz quando percebe que a chuva parou.

Enquanto isso na estrada passa um ônibus de turismo da 1001. Quero ver se a parte da frente está molhada mas só dá para ver a parte de trás, que, curiosamente é a parte da frente, com os vidros com gotas de chuva secando.

Passa um ônibus amarelo comum na rua de pedras e o Lucio diz que espera outro ônibus. Passa o outro ônibus com o letreiro e o nome do bairro. Eu decoro o nome para saber como pegá-lo sozinho quando estiver na rodoviária e ir para a casa da vila. Lúcio, vestido com camisa branca e gravata vermelha, entra no ônibus e diz que vai para o trabalho. Eu penso que ele decide fazer isso porque ninguém se decidiu sobre a praia.

Volto para a casa e o portão da vila está aberto. Na despedida ainda pergunto ao Lucio se o portão é para ficar aberto e ele diz que é pra deixá-lo fechado. Para isso preciso ir até uma velha senhora que se encontra por trás de um balcão ali naquele quintal na frente da vila. Ela vai calmamente e eu fico preocupado, pois entram dois tipos esquisitos na vila. Depois vejo que um deles é morador dali e o outro é o César Maluco, que fala qualquer coisa com a velha. Ela fecha a porta mas não fecha com o cadeado que fica na porta aparentemente trancando a casa.

Volto para o barraco de onde saí e lá há crianças brigando e fazendo bagunça com colchões. Eu chego e elas param. Dou um esporro, algo como “só porque estou aqui vocês pararam com a bagunça”. Elas arrumam os vários colchões, um deles velho e gasto, no chão e se preparam para dormir.

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