Monday, January 23, 2006

A Invasão


O banheiro de uma casa mal acabada. Parece um barraco, mas é de alvenaria. Do lado de fora seu Nascimento fala qualquer coisa comigo. Termino o banho e me enxugo. Há um clima de medo na casa:

- Cuidado, começou o tiroteio e ninguém sai de casa.

Olho para o Luis e digo:

- Pois é isso aqui virou Rio de Janeiro de vez. O tráfico tomou conta de vez disso aqui.

Do lado de fora da casa há uma grande varanda de piso marrom e nela há uma nordestina de cerca de 30 anos, magra, cabelo pintado de loiro e um sotaque “arretado”. Ela bradava, dizendo que iria ficar do lado de fora sim e que era desaforo ela não ter segurança, pois pagava os seus impostos. Num dado momento todos voltam para casa e se abaixa com medo de possíveis balas perdidas. Me junto a nordestina do lado de fora e concordo com o que ela diz, ao mesmo tempo que tenho muito medo. De longe vejo a favela, talvez o Jardim Jaqueline, iluminado pelas casas na escuridão da noite de onde se pode escutar os tiros.

- E as autoridades, não fazem nada? – continuava a loira.

De repente aparecem no céu três helicópteros do DENARC com guardas munidos que atiram em direção àquela área da favela que mais parece uma pequena cidade envolvida em uma cúpula. Em instantes eles resolvem a situação e o tiroteiro passa.

Quando penso que as coisas estão tranqüilas vejo uma nave pousar mais próxima à casa, sobre uma rua e nela se forma uma cúpula e o cenário ganha ares futuristas com extra-terrestres descendo sobre ela. Vários guardas “ets” armados formam uma fila por entre ruas iluminadas em néon e eu vou até eles.

Em seguida eles me reconhecem e começam a me saudar. Um deles dizem que eu sou o ser mágico que eles estavam esperando há tempos. Isso me dá um misto de satisfação e medo, enquanto ando em direção ao fim da rua onde há o chefe deles. Eles me dizem que me reconhecem por conta do meu calázio e por isso sou o tal ser sagrado. E quando encontro o chefe deles no fim da rua sentado em um trono eu pergunto:

- Mas por que és tão ruim?
- Na realidade eu sou uma parte de você. Somos os mesmos, você ainda não se deu conta?

E me aproximo dele e nos fundimos em um só

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